Suzana Marques Domingues e Marco Antônio Villas Boas – sócios DMS Partners
Pergunta que parece já ter sido respondida considerando os direcionamentos feitos por associações, investidores e pessoas de grande experiência atuando como mentores. Todos ressaltam a importância da governança para o crescimento saudável da startup.
Aqui nos colocamos nos sapatos dos empreendedores, que têm vários bastões girando para serem pegos e jogados novamente para manter o negócio em pé e crescendo. Tarefa nada fácil conseguir incluir mais um.
Primeiro vamos relembrar o que é Governança e seu propósito. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a governança é "um sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas." Parece complicado e necessário apenas para a grandes empresas, mas o fato é que a governança pode e deve ser aplicada a qualquer tamanho de empresa.
A qualquer tamanho? Em qualquer fase de maturidade da startup? Como assim?
Podemos não perceber, mas há governança em qualquer empresa, em qualquer organização.
Vamos considerar esta situação bem simples: criei uma startup e minha sócia é uma colega de escola, somos sócios com 50% cada. A empresa é, por enquanto, integrada apenas por nós dois. Ela é a criadora da tecnologia, e eu atuo como diretor comercial. Discutimos o caminho da estratégia da startup como sócios igualitários, com maior ou menor dificuldade de consenso. Por outro lado, em termos operacionais, ela aporta as soluções tecnológicas e eu tomo as decisões comerciais. Pronto, temos aí a separação de funções como sócios (agentes de governança) e como gestores operacionais (diretores e executivos). Isso já uma prática de governança, mesmo que os envolvidos estejam presentes nos dois níveis. É importante saber distinguir os papeis desses dois tipos de agentes, e praticá-los de modo organizado.
Então, colocando em termos simples, a governança é utilizada para evitar falhas de gestão que possam comprometer a sustentação e o crescimento da empresa. E por que isso é importante para as startups? Podemos citar alguns motivos:
Para estar em alinhamento com o propósito, valores, diretrizes acordadas e, principalmente, a estratégia.
Para crescer em bases sólidas.
Para evitar problemas futuros na sociedade.
Para ter regras claras sobre a atuação dos sócios nos assuntos que lhes são pertinentes, e dos gestores no exercício das suas funções.
Para assegurar a potenciais investidores que a empresa está saudável para prosperar.
Neste momento em que tem sido bastante anunciada a cautela e reflexão dos fundos de investimento, inclusive com grandes players como o Softbank reportando prejuízos na casa dos US$ 16 bilhões no primeiro trimestre e US$ 23 bilhões neste último trimestre de 2022, a governança é, sem dúvida, um dos aspectos essenciais na escolha da startup a ser investida.
Portanto, é correto afirmar que se o crescimento saudável e o aporte de investimentos estão ligados, a governança é item cada vez mais requerido. Se sua startup pretende buscar aportes no futuro, será relevante dar os primeiros passos logo cedo na trajetória da governança para estar apto a esta concorrência.
Investidores não tardam a querer colher o resultado de seus aportes, e uma governança compatível com a maturidade da startup é, sem dúvida, um critério relevante para a confiança na gestão do investimento feito.
Mas, calma, a introdução da governança não precisa ser de forma complexa! Uma startup pode e deve ter um caminho de governança evolutivo, da mesma maneira que ela evolui em suas fases de crescimento, ou seja, processo pode ser implantado por partes, dentro do estágio de maturidade, do crescimento e da evolução da empresa. O IBGC elaborou um e-book GOVERNANÇA CORPORATIVA PARA STARTUPS & SCALE-UPS que mostra o que é necessário para cada etapa. Se quiser saber mais detalhes, recomendamos que baixe esse conteúdo do site do IBGC.
Aqui apresentamos o primeiro passo, ou seja, o que é imprescindível para iniciar bem essa jornada:
Acordo de sócios
Uma empresa é iniciada com pelo menos dois sócios e é assim por diversos motivos: complementariedade de conhecimentos, habilidades, ligações familiares ou de amizade, necessidades financeiras. Ao mesmo tempo que ter mais de um sócio é essencial, o desentendimento entre sócios é, segundo uma pesquisa divulgada pela Fundação Dom Cabral em 2012, a maior causa de mortalidade das empresas.
O Acordo de Sócios é diferente do contrato social que você registra na junta comercial e que regulariza a empresa. Esse instrumento é separado, não abertamente divulgado e tem função muito importante na estruturação de uma empresa, porque rege as relações entre os sócios. A clareza nessa relação pode ser a diferença entre ter a perenidade desse sonho conjunto ou ficar pelo caminho.
Alguns itens importantes que devem estar contidos no Acordo de Sócios: esclarecer as obrigações e responsabilidades de cada um dos sócios, o alinhamento de propósitos e valores, como será a tomada de decisões, as regras de saída, a titularidade da propriedade intelectual, formatos de crescimento, entrada de novos sócios, a distribuição de lucros e reinvestimento, e outros temas que sejam necessários para o momento da startup. Esse instrumento é essencial para evitar conflitos futuros e problemas de continuidade da empresa.
Muito bem, já elaboramos esse documento na nossa startup e agora podemos seguir em frente nos preocupando com os problemas imediatos e o crescimento.... Bem, não necessariamente. Este documento não é para ser guardado na gaveta, mas é um instrumento dinâmico, que deve ser revisado durante a jornada de crescimento da empresa, seja pela entrada de investidores ou por aparecerem questões importantes que precisam ser discutidas e resolvidas entre sócios ao longo dos diversos estágios da startup.
Em resumo, podemos citar uma frase que parece um contrassenso, mas que ilustra bem o que queremos dizer: “devagar que estou com pressa”, que significa que quando estamos com muita pressa, a chance de cometer erros aumenta consideravelmente, então é bom irmos devagar, porque no fim conseguiremos ser mais eficientes.
Complementando com um outro ditado popular que pode esclarecer ainda mais a contradição anterior: “Quem anda depressa não enxerga o que procura.”
Ponto para reflexão!
Para resumir, em um processo que evolui como evoluem as startups, é necessário ter uma trilha em vista. Não uma camisa de força, mas algo compatível com esse caminho: começar pelas demandas mais imediatas de governança, e planejar práticas, processos e estruturas à medida do caminho percorrido.
Nós da DMS Partners criamos o Lean Solutions, uma forma de apoio sob medida com alguns temas endereçados para as dores das startups em suas diversas fases, seja na avaliação de seu modelo de negócio, da sua estratégia de crescimento, da sua governança, ou da gestão de times.
Se quiser conhecer mais acesse o link abaixo:
https://www.dmspartners.com.br/leansolutions
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