Alberto Barriga – Sócio Sênior da DMS PARTNERS
Em um mundo cada vez mais complexo, com mais restrições de caráter ambiental (GEE), novas legislações, restrições de capital, novas tecnologias no caminho da transição energética, é constante a busca de novas oportunidades. Nunca, para a sobrevivência de uma empresa, esteve-se tão fortemente ligada aos seus valores ESG para manter as perspectivas para seus “stakeholders”, com ciclo operacional sustentável, expressa por valores da economia circular, de “compliance” e na busca de otimização todo o processo de produção.
O petróleo na energia está deixando de ser, ainda que muito embrionariamente, o seu
protagonista. A busca de novas fontes com menores emissões atmosféricas a custo
competitivo, trás alternativas de novos investimentos com perspectivas crescentes da
agroenergia. O Brasil tem um potencial enorme em fontes renováveis, mas destacam-se aqui os biocombustíveis líquidos, uma fonte renovável, onde estamos apenas iniciando uma nova era. No Brasil, nosso histórico com a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar (E1G) expressa uma realidade de nosso potencial para consumos alternativos, sejam produtos finais acabados “puros” ou em misturas.
Nos teores de álcool - o etanol anidro - na gasolina atualmente está em 27%vol. de adição para a gasolina comum e 25% para gasolinas Premium. A produção anual de etanol no Brasil está próxima a 30 bilhões de litros e o motor “flex fuel” fez sua parte para aumento dessa demanda.
O Biodiesel que é um produto de origem vegetal e animal tem sua participação atual no diesel final limitado em 12%vol em 2023. Projeta-se crescer de modo a chegar em 15% em 2026. A produção anual de Biodiesel em 2022 foi de 6,7 bilhões de litros. Para ter uma ideia da lacuna entre os “bios” e os fósseis, o Brasil consome anualmente 40 bilhões de litros de diesel e 23 bilhões litros de gasolina via petróleo (ANP, 2022). As maiores dificuldades do Biodiesel são as condições de escoamento nos motores e o potencial de oxidação que deteriora suas propriedades combustíveis. Para minimizar impactos, pode-se fazer uso de adição de antioxidantes ao diesel.
Nas demais fontes alternativas no Brasil destaca-se o grande avanço que tivemos em energia solar – o quarto produtor mundial, ofertando o equivalente elétrico igual à quantidade que anUsina de Itaipu fornece por meio da energia hídrica (14 GW) e é o sexto produtor em energia eólica (26 GW).
Nos biocombustíveis líquidos, o conceito inicial sempre foi de misturas aditivadas “in-natura”, adições de biodiesel ao diesel fóssil. Recentemente, as tecnologias de craqueamento e hidrocraqueamento utilizadas em refinarias foram adaptadas para processar óleos vegetais e animais em conjunto com material fóssil – coprocessamento – obtendo-se combustíveis plausíveis de consumo como combustíveis, mas de estabilidade limitada devido à oxidação.
Essas unidades em mistura removem o enxofre, nitrogênio, oxigênio e compostos insaturados (mais instáveis), mas mantém certa instabilidade.
Alternativa importante e consistente para os biocombustíveis foi a de se trabalhar com essas unidades isoladamente, sem óleos de origem fóssil, apenas de origem vegetal e animal. A rota de hidrotatamento desses óleos renováveis é a que mais avançou, pois modifica a estrutura molecular dos combustíveis gerados, dando-lhes maior estabilidade química à oxidação, melhor desempenho no motor diesel através de reações de isomerização, pois convertem cadeias de carbono lineares em ramificadas o que melhora a qualidade de escoamento para uso em motores. Este processo é similar às utilizadas em refinarias de petróleo, mas que requerem cuidados diferenciados por serem óleos de diferente origem, não fóssil.
Um processo antigo (1920) e concorrente é de Fischer–Tropsch (FT). Geram produtos mais específicos, livres de aromáticos, sulfurados, nitrogenados e oxigenados a partir de síntese de moléculas de carbono de origem renovável ou não, como biomassa, carvão, gás natural, mas essas plantas são mais complexas, com elevado Capex e Opex – custos tecnológicos – e exigem fontes de biomassa de alta qualidade. Usam catalisadores especiais e complexo sistema de separação de produtos. Na regulamentação do biodiesel pela ANP para base hidrocarbonetos parafínicos (diesel verde), o processo Fischer-Tropsch ficou restrito a biomassa. Existe ainda o processo fermentativo, organismos como leveduras transformando em materiais como caldo de cana em orgânicos similares a frações de petróleo e ainda, a oligomerização de alcoóis
transformando em diesel, mas ambas enfrentam desafios de elevado custo e de difícil
aplicação prática.
Neste tempo de requesitos ambientais e tecnologia em evolução, mostraremos, na sequência, o “status-quo” tecnológico dessas plantas de produção de biocombustíveis pela rota de hidrogenação (parte2/2).
Conte sempre com a assessoria do time de Sócios Seniores da DMS PARTNERS ,
especializados nas mais diversas áreas funcionais, indústrias e tecnologias.
Bom artigo com uma visão geral dos combustíveis renováveis e perspectivas como forma de redução do impacto ambiental do combustível fóssil.